“Em um condomínio não muito distante de você, havia um morador que pagava sempre em dia suas taxas condominiais. Rodrigo nunca deixava nenhum boleto vencer, pois sabia da importância da pontualidade dos pagamentos para o condomínio.
Certo dia, Rodrigo desceu da sua unidade no horário da assembleia. Qual foi sua surpresa ao notar que seu nome estava incluso na lista dos inadimplentes!! Ele ainda não sabia, mas havia pago um boleto fraudado há alguns meses, e não pôde participar da reunião aquele dia”.
A história acima parece ser ficção, mas pode virar realidade para você, ou para alguém do seu condomínio, caso o empreendimento esteja na mira de fraudadores de boleto.
Importante ressaltar que, na prática, não são apenas os moradores de condomínios as vítimas desse tipo de crime. De planos de saúde à escolas, qualquer conta paga por boleto pode, em algum momento, ser adulterada.
“Aqui tivemos problemas pontuais que melhoraram bastante com a divulgação de alguns cuidados para evitar esse tipo de situação”, explica Gabriel Karpat, diretor da administradora GK.
Apesar de apresentar um percentual pequeno de boletos fraudados, as administradoras entendem esse problema como bastante significativo, uma vez que os moradores pagaram o condomínio, só que não para a pessoa correta.
Para Calos Cêra, co-fundador da Superlógica, empresa cujo sistema de gestão é utilizado por mais de mil administradoras no país, a fraude mais comum de boletos é causada por um vírus, que se instala no computador de quem paga os boletos.
Ao baixar o arquivo, o vírus altera o código numérico e a pessoa acaba pagando para os fraudadores.
“Esse vírus é algo muito cruel, pois coloca o condômino contra a administradora. Até descobrirmos que é esse o problema, é difícil ajudar, pois o condômino acha que pagou, e a administradora não acusa o recebimento”, explica Carlos.
Gabriel Karpat conseguiu diminuir bastante os números de boletos fraudados em sua administradora optando por enviar os mesmos por malote até o local.
“Nos condomínios onde fazemos isso, conseguimos zerar a fraude”, explica.
Outras sugestões de segurança para quem está pagando boletos é trabalhar com débito automático ou DDA (Débito Direto Autorizado), caso o seu banco ofereça essas possibilidades.
Seja de um jeito ou de outro, quem paga um boleto fraudado tem direito a ser restituído pelo banco, como explica Carlos, da Superlógica.
“Conseguimos ajudar todos os clientes que pagaram boletos fraudados. Nesses casos, a pessoa deve entrar em contato com o gerente do banco e pedir a restituição do valor. O estorno é longo e demora cerca de três meses. Dá trabalho, mas é possível sim. E temos que cobrar dos bancos essa segurança”, argumenta Carlos.
Justamente devido a essa insegurança tremenda, a partir de janeiro de 2017 todos os boletos serão registrados, de acordo com o comunicado 15/2015 da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
“Hoje em dia funciona da seguinte maneira: o condomínio vai até o banco. Contrata uma cobrança, e o condomínio faz a impressão e a remessa dos boletos. O banco só sabe da existência do boleto quando o mesmo é compensado”, esclarece Walter Farias, diretor de operações da Febraban.
Com os boletos registrados, o banco consegue acompanhar de perto quem fez o pagamento e vai ficar muito mais difícil fraudar esse tipo de documento, promete Walter.
“Para realizar o registro, os condomínios devem passar as seguintes informações para a administradora (caso haja) ou para o banco: o nome completo do pagador, CPF ou CNPJ, o valor do pagamento e a data de vencimento”, enumera.
Por se tratar de algo mais seguro e rastreável, o esperado é que esse tipo de pagamento seja mais caro.
O representante da Febraban, porém, afirmou que “historicamente, a cobrança com registro é mais barata do que a sem registro”. Ele explicou que o que pode encarecer os serviços financeiros pagos pelo condomínio são os “extras” como serviço de protesto, controle gerencial do condomínio, entre outros.
Mas não é esse o entendimento do mercado.
“O boleto registrado é mais custoso, mas evita os aborrecimentos com fraudes, o que já é bem interessante. Nossa ideia é cadastrar 100% da nossa base de clientes até o meio do ano”, aponta Gabriel Karpat.
“Por mais que seja algo a mais para a administradora fazer, e que deve custar um pouco a mais, é algo que vai valer muito a pena, pois vai dar mais segurança para os moradores na hora de pagar o condomínio”, argumenta Vania dal Maso, gerente de condomínios da administradora ItaBR.
A grande pergunta quando se trata de boletos fraudados é essa: de quem é a responsabilidade em arcar com o prejuízo?
A pergunta é polêmica e não encontra apenas uma resposta entre os consultados. Para Omar Anauate, diretor de condomínios da AABIC (Associação das Administradoras de Condomínio), o morador que não está com seu antivírus em dia pode ser responsabilizado pelo pagamento incorreto do boleto, mas esse não é o entendimento, por exemplo, de Carlos Cêra, da Superlógica, como já enumerado acima.
Para muitos, o ideal é que os bancos se encarreguem desse ônus, uma vez que é no ambiente bancário que as fraudes acontecem.
“São diversas as formas de fraudar moradores de condomínio. Fica difícil apontar o responsável por todas as falhas que existem. Mas, sim, os bancos podem ajudar mais nesse sentido”, aponta Gabriel de Souza, diretor da administradora Prop Starter.
Apesar de acreditarmos que quem paga uma conta está fazendo isso de boa fé – e, portanto, não deve ser responsabilizado por eventuais erros e fraudes que eventualmente ocorram – é sempre bom ficar de olhos bem abertos.
Veja abaixo dez dicas da Febraban para evitar o pagamento de boletos fraudados:
Exemplo de boleto fraudado
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Fonte: SindicoNet