Sistemas que captam água da chuva para utilização em vasos sanitários, sistemas de irrigação e outras áreas passam a ser obrigatórias em Florianópolis.
O tema sustentabilidade ganha cada vez mais força no universo dos condomínios e, ao contrário do que muitos pensam, não significa gasto excessivo. E os benefícios são inúmeros, tanto para o bolso e o bem-estar, quanto para a natureza. Nesse cenário, uma das medidas que cresce na Grande Florianópolis é a utilização de sistemas de captação de água da chuva. Esse tipo de tecnologia, aliás, passa a ser obrigatório na capital catarinense após aprovação do Projeto de Lei Complementar nº 1.231/2013.
Com a regra, todas as novas edificações comerciais e residenciais com área acima de 200 m² deverão utilizar o sistema. Segundo o gabinete do vereador Pedro de Assis Silvestre (PP), o Pedrão, autor do projeto, a publicação no Diário Oficial está prevista para este mês de junho. “É necessário estimular as pessoas para que tenham atitudes mais conscientes. Além de ser ecologicamente correto, esse sistema de captação é viável financeiramente, pois custa em torno de 1% do valor total da obra”, disse Pedrão.
Bem antes da obrigatoriedade, edifícios de Florianópolis já haviam optado pela tecnologia. E gostaram. Síndico profissional há sete anos, Rafael Irani Silva administra três condomínios que utilizam a captação de água da chuva, o Villagio Di Siena (Ingleses), o Villagio Di Capri (Cachoeira Bom Jesus) e o Porto dos Açores (Jurerê). “O sistema de captação de água das chuvas é uma realidade que, aos poucos, vai se tornando obrigatória, e representa uma alternativa simples e barata no combate à falta de água dos municípios”, avalia.
Como funciona
O funcionamento do sistema é simples: a água da chuva é captada no telhado por meio de calhas e acumulada em uma cisterna fechada – uma espécie de caixa d’água – , que fica separada da potável. Depois, passa por um sistema de pré-tratamento (ou não, dependendo do tipo), para então abastecer vasos sanitários, torneiras de serviço, irrigações de jardins e até mesmo redes hidráulicas de incêndio.
“A diferença dos tipos de sistema é que alguns são mais simples e outros mais completos, com freio de água, gradeamento, filtragem e cloração, por exemplo”, explica a arquiteta Maria Lúcia Mendes Gobbi. “O freio de água serve para ajudar a reduzir o turbilhonamento da água quando armazenada, o gradeamento retira as partículas maiores, como folhas e galhos, a filtragem, que é feita por um filtro de areia, retira as partículas finas que estão em suspensão na água, e a cloração faz a desinfecção da água para o uso”, detalha.
O custo para implantação pode variar entre R$ 5 mil e R$ 50 mil, dependendo do tamanho e complexidade do sistema, afirma Maria Lúcia. Outro ponto destacado pela arquiteta é a necessidade da ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) para o projeto, que deve ficar a cargo de um engenheiro hidrossanitário. “Ao fazer o projeto hidrossanitário, o engenheiro contempla todo o processo de água e esgoto. Ele entrará em contato com o arquiteto e solicitará os dados necessários para calcular a capacidade de uso e reuso e utilização específica, dependendo de cada projeto”, observa.
A economia com a utilização da tecnologia pode variar entre 5% e 20%, levando em conta a intensidade das chuvas e o consumo da edificação, diz Maria Lúcia. Nos condomínios administrados pelo síndico Rafael, no entanto, o número chega a 50% – o gasto para a implantação foi de cerca de R$ 5 mil. “Não tivemos problemas em nenhum sistema implantado, mas se deve atentar apenas para o tratamento periódico da água e limpeza constante de calhas e lajes captadoras”, disse o síndico, ao frisar a importância das manutenções.
Evitando problemas
O síndico Rogério de Freitas, que administra um condomínio no Saco dos Limões, teve problemas com o sistema de captação de água da chuva. Segundo ele, o condomínio já foi entregue com a tecnologia, mas houve problema de vazamento em uma das caixas d’água, o que resultou em infiltrações em duas unidades e na área comum do edifício. “Na concepção do projeto não foi prevista uma possibilidade de colapso. A laje onde as caixas estavam colocadas não possuía impermeabilização, provocando a infiltração”, relatou, ao contar que a solução foi apresentada e executada pelo prestador que implantou o sistema.
Apesar do problema, Rogério avaliou bem o sistema, afirmando que “gera bons resultados”, mas ressaltou a importância de se contratar um engenheiro e possuir um plano para o caso de um colapso. Assim como ele, a arquiteta Maria Lúcia também defende a tecnologia. “Sofremos enchentes e grandes alagamentos por termos negligenciado e desrespeitado a natureza. Precisamos cada vez mais buscar conhecer sistemas como esse, para utilizarmos e reutilizarmos a água com mais critério, atenção e economia. Vale a pena gastar um pouco mais, para depois ter o benefício por um longo tempo”, finaliza a arquiteta.
Fonte: CondomínioSC