Para dividir um lar com alguém, não basta ter amizade; veja o que analisar

Aluguéis em alta, TV a cabo, internet, luz, condomínio, compras de mercado… São muitas as contas que precisam ser pagas para ter uma casa. Para muitas pessoas, morar sozinho e arcar com todas essas despesas é inviável, mas viver com a família não é mais a situação ideal. Nesses casos, encontrar alguém para dividir o […]

Aluguéis em alta, TV a cabo, internet, luz, condomínio, compras de mercado… São muitas as contas que precisam ser pagas para ter uma casa. Para muitas pessoas, morar sozinho e arcar com todas essas despesas é inviável, mas viver com a família não é mais a situação ideal. Nesses casos, encontrar alguém para dividir o teto e os gastos é a melhor opção.

amigas

A necessidade de dividir casa pode surgir quando é preciso deixar a casa dos pais para estudar em outra cidade, pelo desejo de ter mais autonomia ou por reveses da vida, como o fim de um casamento ou a diminuição da renda.

Independentemente dos motivos ou da idade em que se opta por essa convivência, há regras que podem ser aplicadas em todos os casos e, com medidas simples, é possível evitar os conflitos mais comuns que acontecem entre quem escolhe morar com outras pessoas.

Paciência e tolerância

Antes de decidir morar com alguém, pergunte-se: estou disposto a encarar as situações que acompanham essa escolha? Dividir seu espaço pode ser prático e divertido, mas é trabalhoso. A privacidade será menor e aceitar os costumes e hábitos alheios não é fácil.

Para Aurélio Fabrício Torres de Melo, supervisor do curso de Psicologia da Universidade Mackenzie e especialista em psicologia do desenvolvimento, tolerância é essencial. “Todos têm de fazer renúncias para a boa convivência”. Essa nova condição exige a descoberta do papel de cada um no novo lar, diferentemente do que acontece no núcleo familiar, onde o espaço de cada membro é bem claro.

A professora Nani Oliveira, 37, dividiu casa com outras pessoas durante 12 anos: seis deles em Londres e outros seis em São Paulo. “Você precisa ter paciência e respeitar o espaço do outro. Quando você administra isso, não tem problemas”, afirma. Nani transformou suas experiências no livro “Dividindo o Mesmo Teto” (sem editora, 2011).

A bibliotecária Marília Rodrigues Mercadante, 24, morou com outras pessoas durante a faculdade. Ela conta que teve de aprender a conviver com as variações de humor dos companheiros. “Um dos maiores problemas que enfrentei foi lidar com o gênio das pessoas. Sou uma pessoa de bem com a vida e que acorda de bom humor. Mas nem todos te dizem bom dia, mesmo morando com você”.

Responsabilidade

Dividir um lar implica em ser responsável por você mesmo e pelo seu canto. Para dar esse passo, esteja seguro de que é capaz disso. Obedeça às regras da casa e não atrase as contas. “Na casa dos pais, quase sempre alguém cuida de você. Quando você chega, a comida está pronta ou pelo menos está comprada. Quando você mora com alguém ou sozinho, tem que pensar nessas coisas”, diz Aurélio.

A vantagem de ter outra pessoa morando na casa com você é a troca de conhecimentos e a experiência de lidar com os problemas cotidianos: de fritar um ovo a negociar contratos de aluguel. “Um pode ensinar ao outro a fazer pequenas coisas, a cuidar da casa, proporcionando uma possibilidade maior de crescimento”, diz Alexandre Bez, psicólogo especialista em relacionamentos.

Como escolher

Escolha pessoas que sejam parecidas com você, que tenha valores semelhantes aos seus ou que sejam tolerantes com o diferente, segundo o psicólogo Aurélio. “Às vezes, um é organizado e outro não, mas o organizado não liga para a bagunça”.

Para Nani, o primeiro passo é você se conhecer, saber o que quer e o que não quer dentro da sua casa. “Faça uma lista do que considera importante, com aquilo de que gosta e não gosta. Você curte fazer festas, receber amigos, música alta, fuma? Isso já vai excluir algumas pessoas”.

Amizade não é tudo

Pegar o melhor amigo para morar no quarto ao lado pode gerar as melhores e as piores experiências. Nem sempre a pessoa com quem você se diverte fora de casa é aquela com quem você deve morar. Em alguns casos, viver com um mero conhecido faz com que os espaços individuais sejam melhor definidos e a relação mais longa.

Para Marília, dividir o teto com uma grande amiga foi sua melhor escolha. Depois de ter morado por algum tempo com pessoas que tinha acabado de conhecer, ela alugou um apartamento com sua principal companheira na faculdade. “Foi ótimo, a gente se dava muito bem. Fazíamos tudo juntas, desde dar uma volta no bairro até fazer bolinho de chuva nos dias frios. Aconteciam algumas brigas, mas em cinco minutos já estava tudo bem. Somos muito amigas até hoje”.

Peça referências

Nani acredita que morar com amigo pode ser mais difícil. “Ele pode ultrapassar limites com mais facilidade”. Para ela, quando existe amizade, existe, também, liberdade, o que pode incomodar no dia a dia. “As pessoas costumam ter medo de morar com alguém que não conhecem direito, mas, se tiver cuidado, é possível. Morei por cinco anos com uma pessoa que eu conheci graças a um anúncio no jornal”.

Mas é essencial pedir referências e checá-las –falar com familiares e amigos, por exemplo. Alexandre Bez aconselha também a marcar encontros para conhecer melhor a pessoa. “Precisa haver empatia. Se não houver, procure outra pessoa. Depois, aprofunde as primeiras impressões, converse sobre o que querem para a casa, planos e expectativas”.

Regras

Escolhida a pessoa, é hora de estabelecer regras claras para a casa. Nada de deixar a rotina se estabelecer sozinha: deve-se, desde o início, definir uma série de acordos para o bom funcionamento da relação. Seja a divisão de contas e tarefas, o horário para baixar o volume da música, os dias permitidos para receber amigos ou as condições para ter animais de estimação.

“Cada casa vai ter suas regras e esses acordos têm de ser respeitados, senão começam a surgir conflitos”, diz Alexandre. “E, sempre que houver uma falha nos acordos, é importante admitir e reconhecer o erro.”

Contas

É comum que uma pessoa fique responsável por recolher o dinheiro e fazer o pagamento das contas, mas é essencial que cada morador cumpra os prazos. Estabelecer um dia para pagamentos pode ser uma boa estratégia para que nada seja esquecido.

Em uma das casas em que Marília morou com outras três colegas, a divisão era rigorosa e nenhum atraso era permitido. “As contas eram pagas religiosamente todo dia dez, e nunca pagávamos a parte da outra”, conta.

Comida

Para Nani Oliveira, a divisão de comida está entre os aspectos que mais geram conflitos dentro de casa. O principal erro, segundo ela, é decidir fazer compras juntos e dividir a conta. “As pessoas têm gostos diferentes, umas comem mais do que as outras, umas cozinham e outras não, umas querem coisas mais caras que as outras não podem bancar… Não conheço nenhuma experiência de divisão de comida que tenha dado certo. É melhor cada um ter a sua comida e o seu armário”, sugere Nani.

Arrumação

A organização da casa é também um dos principais estopins de conflitos. Por isso, coloque esse tema nas regras da casa, desde o princípio. Façam divisões claras das tarefas e com qual frequência devem ser executadas.

Em duas das três repúblicas em que morou durante a faculdade, a bibliotecária Marília tinha uma escala de trabalhos domésticos, estabelecendo quem limparia o que e quando. “E uma não invadia o território da outra. Por exemplo: eu lavava o banheiro de sábado, outra lavava a sala na quarta. Para a louça, a regra era simples: sujou, limpou na mesma hora”.

Diálogo constante

Quando os acordos falharem ou acontecerem imprevistos, todos os moradores devem estar abertos ao diálogo. Algumas vezes, também, as regras deverão ser adequadas a novas realidades e novos contratos precisarão ser selados.

“A conversa é a melhor solução. E não deixe que uma situação que incomoda aconteça por meses ou anos. Senão, quando você for conversar, já está no limite e acaba explodindo”, fala Nani.

Marília conta que já viveu uma situação em que, devido à intransigência de uma das moradoras, o diálogo era impossível. “Quando tinha um problema, ele só crescia… Não falávamos sobre nada. Chegou ao ponto de eu não querer voltar para casa. A angústia aumentava e que acabou causando muitas brigas na hora de desfazer o apê, quando a faculdade acabou”.

Fonte: UOL

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