Com 256 unidades, o condomínio Flores do Bosque é um dos mais novos edifícios do bairro Roçado, em São José. Quem assumiu a responsabilidade pelo imóvel foi o síndico profissional Yuri Vaz, que logo se deparou com uma importante incumbência: calcular a taxa condominial que os futuros moradores iriam pagar.
Quem mora em condomínio sabe que a taxa é um compromisso ‘eterno’, pois a mensalidade é a garantia da estrutura e dos serviços em pleno funcionamento. Mas, afinal, o que compõe essa taxa? Como se chega ao valor ideal para cobrir as despesas? E os reajustes, o que é levado em conta na hora de calculá-los?
Antes de responder a essas perguntas, é importante saber que o Código Civil dá liberdade quanto aos critérios utilizados no cálculo, explica Dennis Martins, que é advogado, consultor, palestrante e professor na área de Direito Imobiliário. Os quesitos considerados, por sua vez, são divididos basicamente em: despesas ordinárias (como salário de funcionários, água, luz e conservação) e extraordinárias (como obras de benfeitorias e valorização do patrimônio).
No Condomínio Milano, no bairro Itaguaçu, em Florianópolis, o síndico Fernando Moraes tem dificuldade, na hora do cálculo, de considerar as despesas que não podem ser parceladas. Com isso, o valor da taxa acaba saindo da média em alguns meses. “Mas é necessário para recompor o caixa do condomínio. Todas as despesas são custeadas e rateadas entre os moradores, para não mexer no fundo de reserva”, conta Fernando, que fixa no mural o resumo de gastos, além de fazer constar no site da administradora todos os detalhes, com gráficos e dados detalhados. “As informações têm de estar na mão do morador”.
Segundo Rosely Schwartz, que é contabilista e administradora especializada em gestão predial, além de palestrante e autora de um livro e artigos na área, a previsão deve ser feita com bastante atenção, para que realmente reflita as necessidades do condomínio no próximo período. “Deve-se verificar as médias das despesas do ano anterior, os reajustes previstos e as manutenções e reparos que serão realizados no próximo período”, detalha.
Para melhor visualização, deve-se pensar que cada item das despesas possui diferentes percentuais de reajuste, em diferentes meses, que serão lançados nos respectivos períodos. “Após todos os lançamentos em uma planilha anual e a inclusão das manutenções e reparos que excederem os valores médios, serão somadas e apuradas novas médias, e assim calculado o novo rateio”, explica Rosely.
A periodicidade do reajuste, por sua vez, costuma ser anual e aprovada em assembleia no primeiro trimestre. Segundo o advogado Dennis, em lei federal é estabelecido que o período máximo seja de um ano. Caso haja necessidade de alteração do valor, para mais ou para menos, o cálculo poderá ser revisto em qualquer outra oportunidade, acrescenta Rosely. “A aprovação do orçamento anual será peça fundamental para as ações de cobrança, segundo o Novo Código de Processo Civil”, frisa a especialista.
O número de unidades de determinado condomínio pode ter influência direta no valor da taxa – o que inclui aqueles compostos por várias torres. Isso porque, quando o rateio é dividido entre mais moradores, o montante será proporcionalmente menor. Nesse quesito, a administradora Rosely exemplifica que edifícios com poucos apartamentos muitas vezes possuem o mesmo número de funcionários de outros maiores, o que costuma pesar em até 70% das despesas.
A estrutura do condomínio também tem relação direta no cálculo, já que espaços como piscinas, academia, salão de jogos e cinema, por exemplo, exigem um maior número de funcionários, assim como mais manutenção. “A taxa de condomínio ideal é aquela que permite manter a normalidade da vida condominial, ainda diante da existência de inadimplentes, o que sempre ocorrerá”, observa o advogado Dennis.
Com nove unidades, o Residencial Villa Marianna, no Itacorubi, em Florianópolis, tem duas taxas: R$ 160 para os apartamentos de dois quartos, e R$ 180 para os de três quartos. Segundo o síndico, Ricardo Costa Limas, a administradora ajudou no cálculo e utilizou o critério da fração ideal. “Como são apartamentos de tamanhos diferentes, esse cálculo era o mais justo para todos”, relata.
Por ser um edifício de pequeno porte, o síndico não enfrenta problemas na hora de compor a taxa. Outro quesito também ajuda: oito das nove unidades são de moradores proprietários. “Com a ajuda da administradora, estabeleceu-se um custo mensal para despesas como material e serviço de limpeza, segurança, manutenção e administradora”, detalha o síndico, que considera o IGP-M na projeção dos gastos fixos do próximo ano, como a conta de luz. “Graças a uma boa gestão e com o bom caixa que tivemos, foi rateado apenas 50% do valor das despesas extras e melhorias que realizamos neste ano”, comemora.
Para que haja transparência em todo esse processo, é fundamental a especificação no boleto do que é taxa e do que é despesa extra. “Para o fundo de reserva é cobrado um percentual estabelecido na Convenção do condomínio. Já os demais fundos serão aprovados em Assembleia. A separação no boleto auxiliará o gestor a apurar os valores recebidos e transferir para as respectivas contas”, explica Rosely, ao recomendar que cada fundo tenha uma conta individual aberta no banco, que poderá ser vinculada à conta corrente. “Facilita muito na prestação de contas”, acrescenta.
O cálculo das despesas extras, por sua vez, é geralmente aprovado em assembleias extraordinárias, algumas vezes necessitando de quórum qualificado. Para as obras voluptuárias, como exemplo, é preciso a aprovação de 2/3 dos condôminos, enquanto as obras úteis exigem 50%. “Somente nas obras necessárias o quórum é maioria simples”, comenta Rosely.
O boleto detalhado é uma prática dos síndicos Yuri, Fernando e Ricardo, além de Carlos dos Santos, do Condomínio Villa Giardino, no bairro Ingleses, também na capital catarinense. Segundo Carlos, isso ajuda tanto a administração quanto os moradores. “Dá mais clareza e transparência”, comenta ele sobre o residencial de 154 unidades. O síndico Ricardo, no entanto, pondera: “todas as despesas são informadas no boleto, mas confesso que nem sempre muito claras”.
No condomínio Flores do Bosque, o síndico profissional Yuri utilizou como base alguns critérios para compor a primeira taxa: o número de unidades (para calcular o consumo médio de água) e serviços a serem contratados. “Por mais que seja o desejo do administrador compor uma taxa com valores baixos, o senso de responsabilidade deve estar em evidência, e variáveis devem ser levadas em consideração, sendo uma delas a inadimplência”, relata Yuri, que chegou ao valor de R$ 247,63 para as 256 unidades.
A diferença de calcular a taxa de um edifício recém-entregue é que os equipamentos são novos e a edificação possui garantia, o que diminui gastos com manutenções, por exemplo. “Contudo, há os custos de implantação nos primeiros trinta dias, como o seguro e abastecimento de gás”, pondera Yuri, ao citar ainda a dificuldade em saber quantos apartamentos serão ocupados de imediato, para que seja feito o cálculo dos consumos. “Por isso optamos por uma administradora com experiência para nos auxiliar corretamente na composição da taxa”.
No condomínio Flores do Bosque, o síndico profissional Yuri utilizou como base para compor a primeira taxa o número de unidades, para calcular os maiores custos de produtos e serviços e a serem contratados.
Embora a taxa sirva para cobrir despesas essenciais e manter o condomínio em dia – o que, consequentemente, valoriza o patrimônio de todos os moradores -, ouvir reclamações sobre os valores é rotina para muitos síndicos. Para contornar essas situações, Yuri publica o balancete todos os meses. “Desta forma, há como acompanhar a aplicação dos recursos, assim como a evolução dos saldos do fundo de reserva”.
No condomínio de Fernando, por sua vez, as reclamações são constantes. “Eles reclamam, pois o condomínio só tem 17 unidades, mas em toda reunião faço demonstrações da situação econômica de todos os gastos para a manutenção do condomínio. A informação e a transparência são fundamentais para conscientizar o morador”, diz o síndico.
PARA AJUDAR monte uma planilha anual, listando todos os gastos de cada período (inclusive os fixos), usando como base o ano anterior. Nesse momento, não se esqueça de incluir despesas que excederam o valor programado (assim como as que ficaram abaixo do previsto), além da média de possíveis reajustes nas contas fixas. Depois, inclua os gastos previstos para o próximo ano, faça a soma e calcule o novo valor da taxa.
Fonte: CondominioSC