Morar em apartamento tem sido a escolha de grande parte das pessoas pela facilidade e segurança que os prédios proporcionam e os síndicos são os responsáveis pela gestão desses espaços coletivos O portão não funciona, o porteiro faltou, a reforma barulhenta de um morador parece interminável… Vida de síndico é uma loucura, sem contar a […]
Morar em apartamento tem sido a escolha de grande parte das pessoas pela facilidade e segurança que os prédios proporcionam e os síndicos são os responsáveis pela gestão desses espaços coletivos
O portão não funciona, o porteiro faltou, a reforma barulhenta de um morador parece interminável… Vida de síndico é uma loucura, sem contar a rotina pessoal e o emprego fora do condomínio. Todas essas funções do dia a dia, no entanto, podem ser muito bem conciliadas e ainda trazerem aquela sensação boa de dever cumprido e satisfação. O segredo? A coach Vanessa Tobias e o psicólogo Karim Bacha – que, aliás, também são síndicos – dão as dicas, em comemoração ao dia do profissional, que é celebrado em 30 de novembro.
Com uma simpatia enérgica e contagiante, Vanessa destaca que é preciso se policiar para manter a cabeça e as emoções sempre em dia, antes de qualquer função profissional. “As nossas emoções determinam todas as nossas ações, como síndico ou em qualquer outra função. Então, a rotina leve e prazerosa depende de ter a nossa estrutura íntima bem localizada”, explica ela, que é síndica do condomínio Vila Marinero, no bairro Cacupé, em Florianópolis.
Para os profissionais que lidam com pessoas, o segredo é não deixar que a relação se torne automatizada e burocrática, o que acaba transformando o trabalho em um fardo. “Sempre que vou exercer qualquer trabalho, eu penso que, acima de qualquer problema, estão as pessoas envolvidas. E que eu tenho de ter um enorme interesse em saber quem são essas pessoas. Quando me encontro com cada uma delas, eu dou o meu melhor naquele momento e procuro fazer com que essa pessoa seja muito importante para mim”, relata.
É claro que os problemas existem, assim como em qualquer cargo. Vanessa, no entanto, ressalta que é possível enxergá-los de uma forma menos incômoda. “Cada um tem problemas de tamanhos distintos, mas para cada um seu problema é sempre maior. Então, para ser leve e prazeroso, é entender que alguns problemas fazem parte do trabalho, e que essa função que nós recebemos, de ‘resolvedor’ de problemas, de alguém que coloca as coisas em ordem, é porque nós temos a competência e o talento para isso”, observa.
Para Karim Bacha, que é psicólogo há 30 anos e já atuou na área de Educação Especial, Psicologia Educacional e como professor de Psicologia, outro ponto importante é simplesmente ter paixão pelo que se faz. “Considero que, para conciliar a profissão de psicólogo e a de síndico com a sensação de fazê-los com leveza e prazer, tem a ver com gostar do que faço”, diz ele, que também mora na capital catarinense e é síndico do Condomínio Edifício Aplub Visconde. “É uma questão íntima de decisão de ser feliz no trabalho e de ter a mente tranquila”, completa Vanessa. Do morador agressivo ao problema hidráulico: o que fazer?
A visão do que é ser síndico mudou bastante depois que Karim assumiu a função. Segundo o psicólogo, as pessoas ainda tendem a fazer críticas descontextualizadas por não terem conhecimento sobre a origem ou complexidade dos diversos problemas que um edifício pode apresentar.
“(As pessoas) Querem ver os problemas solucionados. Não se preocupam em como resolver, além de serem muito ‘econômicas’ no que se refere a reconhecer um trabalho bem feito, a estimular o síndico em seu trabalho. Um elogio, vez por outra estimula, embora não deva ser o objetivo, é claro”, comenta.
Para ele, os principais desafios do cargo são de ordem técnica: “são problemas hidráulicos, elétricos, administrativos, incluindo a legislação, administração de pessoal, entre outros, e o desafio está em manter tudo funcionando, com conforto, segurança e transparência, pois é um cargo de confiança. O síndico é eleito e, portanto, precisa representar dignamente suas funções”.
Além das questões técnicas, o síndico também enfrenta o desafio de lidar com diferentes personalidades – e todo mundo sabe que isso não é nada fácil. Segundo Vanessa, as queixas mais clássicas são as reclamações sobre os moradores agressivos ou barulhentos, além da falta de comparecimento às assembleias. “Então, as decisões acabam sendo feitas por um pequeno grupo, o que gera um desinteresse de quem faz parte do condomínio e uma cobrança grande na sequência”, relata.
Para superar essas questões, a coach indica que o síndico pode tentar estimular a participação nas assembleias, que resulta na maior convivência entre os moradores. “O engajamento do grupo tem relação com o quanto atraente pode ser uma assembleia, por exemplo. Que temas podem ser discutidos de maneira prazerosa, como fazer com que os condôminos convivam e se conheçam. Eu penso que algo fundamental é procurar estratégias para que as assembleias se tornem atraentes, dinâmicas e leves”, diz.
Mas como transformar uma assembleia – que o termo em si já sugere algo penoso – em uma atividade atrativa? Segundo Vanessa, uma boa saída é usar artifícios como a exibição de vídeos interessantes e promover pequenas palestras com convidados de fora, para que os debates sejam mais mediados. “Então, é garantir que haja um feedback permanente, sempre perguntando aos condôminos o que pode ser melhor e o que já está bom, para que todos participem da construção de um espaço mais feliz de convivência”. Para todo problema, uma solução
Para ser um bom síndico e manter a boa relação com os condôminos “não há mistérios”, diz Karim. Segundo ele, o essencial é cumprir a legislação e o que dita o regimento interno. “Ter opções de prestadores de serviço também é importante. A relação com os condôminos acaba, em boa parte, sendo reflexo disso, muito embora ser cordial e tentar resolver os problemas com brevidade também ajudem”, acrescenta.
Para isso, basta se cercar de pessoas e empresas idôneas que possam dar suporte ao cumprimento da função. “E, emocionalmente, tentar não se abalar com pessoas descomprometidas que parecem enaltecer os problemas e não as soluções. Estes são a minoria, ainda bem”, completa o psicólogo.
Buscar o autodesenvolvimento, com recursos como livros, vídeos e conversas com outros síndicos também contribui, segundo Vanessa. “A ajuda externa facilita porque quem está dentro do problema tem mais dificuldade em saber como resolvê-lo”, observa. “Resolver um problema sempre tem relação com a nossa intenção em resolvê-lo, em tirar o foco do problema e focar na solução”, continua.
Para finalizar, a coach não deixa de parabenizar aos síndicos pelo seu dia e elogia: “a escolha de ser essa pessoa que recebe todas as demandas de um grupo de moradores é uma função que exige coragem”. “Além disso, é sempre bom buscar auxílio de profissionais para manter a nossa cabeça no lugar, para que a gente sempre faça uma pergunta no começo do nosso trabalho: como queremos ser lembrados? Como gostaríamos que as pessoas falassem sobre nós? E nortear as nossas ações baseados nessa lembrança, que tem relação com a missão que vamos cumprir com cada uma das pessoas com quem cruzamos em nosso caminho”.