“Em condomínios verticais 90% das invasões ocorrem pela porta da frente”.
José Elias de Godoy é oficial da Polícia Militar do Estado de São Paulo, bacharel em Direito, Pós-graduado em Planejamento Empresarial e Mestre em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública – CAES da PM/SP.
Godoy é especialista na área de segurança e professor na Universidade Secovi/SP, além de autor de quatro importantes publicações na área de segurança de condomínios.
O especialista estará em Florianópolis no dia 30 de outubro para ministrar curso de Segurança Predial, promovido pelo Jornal dos Condomínios, e nos concedeu entrevista em que destaca as falhas no controle de acesso dos condomínios, a importância da qualificação dos funcionários e do investimento em equipamentos de segurança. Leia abaixo trechos da entrevista:
Jornal dos Condomínios – Você declarou que em 90% dos casos de assaltos em condomínios, os bandidos entram pela porta da frente. Quais as falhas mais comuns e que favorecem esse índice?
José Elias de Godoy – Em Condomínios verticais (prédios) 90% das invasões ocorrem pela porta da frente para os assaltos. O que se observa são as falhas de procedimentos por parte de funcionários e moradores. As falhas mais comuns estão relacionadas com controle de acesso, devido, basicamente, a falta de atenção, despreparo, ingenuidade, não seguir as normas e falta de estrutura adequada. Atualmente, percebemos que em vários assaltos, principalmente os arrastões, os ladrões invadem o prédio, pela entrada de pedestres ou mesmo de veículos e se dirigem a portaria a fim de dominá-la e promoverem o controle da situação. Desta forma, a guarita estando “tomada”, tem-se como visualizar toda movimentação interna e externa do condomínio, e, infelizmente somente alguns edifícios residenciais, considerados de alto padrão, são projetados prevendo-se sistemas de segurança adequados.
JC – Equívocos na estrutura ou na arquitetura dos edifícios também facilitam a ação dos assaltantes? Poderia citar alguns exemplos?
José Elias de Godoy – Sim. A Segurança de um condomínio está ligada a três partes bem distintas, mas que se completam entre si, as quais são a segurança física das instalações, o investimento em funcionários e a conscientização dos moradores. Portanto, a estrutura física do prédio é parte integrante da proteção predial. Um dos principais pontos de vulnerabilidade do condomínio, sem dúvida alguma, e que deve ser muito bem planejado é a portaria, pois é uma das barreiras físicas mais importantes de qualquer conjunto residencial, tendo-se em vista que é por esta entrada que se fará todo o procedimento de controle de acesso e a triagem das pessoas que desejam acessar as dependências do prédio além de ser o cartão de visita do condomínio. Para tanto, é necessário que se siga algumas regras básicas, quando da confecção do projeto e execução desse tipo de obra, para que seja construída dentro das regras básicas de segurança, levando-se em conta também a estética de sua arquitetura e a funcionalidade.
Primeiramente a portaria deverá ser única e com um ótimo ângulo de visão de todo entorno e protegida a fim de que o porteiro possa desempenhar sua missão com segurança. Deve ter como obstáculos grades e portões formando uma eclusa entre si, tendo altura mínima de 3 metros, devendo seu sistema de abertura ser eletrônico. Poderá haver algumas outras extensões físicas tais como sensores infravermelhos ativos ou cerca eletrificada. Deve ser muito bem iluminada, evitando-se pontos de penumbra à frente do edifício.
A guarita deve ser construída, de preferência de alvenaria e inteiramente blindada, com todos os vidros à prova de balas, portas também blindadas, paredes reforçadas além de possuir passador de encomendas também blindados. Deve ter películas de proteção visual que dificulte a visão do seu interior no horário diurno ou noturno uma vez que colabora com a segurança. O porteiro precisa ser preservado e, para isto, é necessário que a portaria possua um banheiro exclusivo para os funcionários. Os seus principais equipamentos de comunicação devem ser o interfone, o telefone e o rádio HT devendo ser complementado, como backup de comunicação, por aparelhos celulares ou rádios digitalizados.
Nas guaritas deve ter também botões de acionamento eletrônico dos portões, o monitor de CFTV, um botão de pânico e o teclado do sistema de alarme. O ideal é que a guarita tenha uma câmera de CFTV instalada em seu interior, a vídeo vigilância, e que esta seja monitorada externamente, isto para controlar o movimento interno e ser utilizada em situações de emergência ou invasão.
Para melhor controle de entrada é interessante que os condomínios invistam em um sistema de controle de acesso informatizado. E, finalmente, é de suma importância que se tenha um porteiro devidamente selecionado, capacitado e treinado para operá-los.
JC – Qual a responsabilidade dos moradores na segurança do condomínio?
José Elias de Godoy – Os moradores são os maiores interessados pela segurança, portanto eles devem estar conscientes que não basta pagar a cota condominial e sim participar e colaborar com a rotina do condomínio além de conhecer e cumprir suas regras e procedimentos.
JC – Quais as rotinas de segurança que porteiros e zeladores devem adotar no dia a dia?
José Elias de Godoy – Primeiramente, os colaboradores devem obedecer e seguir as normas de segurança do condomínio além de executá-las, ajudando para que os moradores também as sigam e cumpram o determinado nos regulamentos. O principal é que os porteiros estejam sempre atentos e saibam que não devem liberar a entrada para estranhos sem a autorização de quem de direito – moradores, síndicos e zeladores.
JC – Qual a importância de um projeto de segurança adequado ao perfil do condomínio?
José Elias de Godoy – É ideal que ao querer melhorar a segurança do condomínio seja elaborado um projeto personalizado a fim de se levantar os riscos e vulnerabilidades e sugerir a solução como prognóstico de proteção. A importância de se fazer um projeto com consultores especializados deve seguir o conceito de quem projeta não executa, sendo que esse laudo pode se transformar no plano diretor de segurança do condomínio.
JC – A cada dia novas tecnologias e equipamentos de segurança surgem no mercado. Quais são os mais indicados?
José Elias de Godoy – Basicamente, os mais usuais estão relacionados com cercas elétricas, sensores de alarmes, câmeras e gravações digitais, sistemas de controle de acesso eletrônicos e informatizados para as entradas, internet, monitoramento, entre outros.
JC – O investimento em segurança tem se tornado cada vez mais indispensável nos edifícios. O que o síndico deve analisar antes de contratar uma empresa de segurança?
José Elias de Godoy – O síndico deve consultar seus antecedentes, conferir quem são seus clientes, e se estão satisfeitos com os serviços oferecidos, qualidade do serviço, eficiência na substituição dos faltosos, baixa ou alta rotatividade de funcionários, conferir a lista com os documentos úteis para verificar procedimentos e idoneidade da empresa. Não é conveniente escolher uma empresa apenas pelo preço baixo, pois isso pode ocorrer por ela pagar baixos salários – o que ocasiona muita rotatividade entre os funcionários.
Fonte: CondomínioSC