Sistemas de incêndio nos condomínios funcionam apenas com treinamento e plano de rota de fuga

Treinamento, Brigada de Incêndio, projeto de rota de fuga e sinalização são itens previstos largamente em uma série de dispositivos legais, como forma de garantir a eficácia dos sistemas de prevenção e combate ao fogo nas edificações. A NBR 14276/2006 (da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas) estabelece, por exemplo, condições mínimas para a […]

Treinamento, Brigada de Incêndio, projeto de rota de fuga e sinalização são itens previstos largamente em uma série de dispositivos legais, como forma de garantir a eficácia dos sistemas de prevenção e combate ao fogo nas edificações. A NBR 14276/2006 (da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas) estabelece, por exemplo, condições mínimas para a elaboração de um programa de Brigada de Incêndio. Também a legislação de São Paulo, o Decreto Estadual 56.819/2011, e a Instrução Técnica 17, do Corpo de Bombeiros, definem parâmetros de sua formação e funcionamento. Ou ainda, a NBR 14880/2014 trata de um quesito essencial às rotas de fuga, o controle da fumaça.

No entanto, existe um descompasso entre a legislação e a realidade dos condomínios, avalia Carlos Cotta Rodrigues, engenheiro civil e de segurança do trabalho, também coordenador de Comissão de Estudos ligada ao Comitê Brasileiro de Segurança Contra Incêndio, da ABNT (ABNT/CB-24), e Coronel da reserva do Corpo de Bombeiros de São Paulo.

O ideal, segundo Carlos Cotta, é que o síndico adapte o projeto de prevenção ao perfil da população do condomínio. No caso de um edifício com grande número de idosos, que têm dificuldades em lidar com um extintor ou mesmo uma mangueira de incêndio, o engenheiro recomenda a troca paulatina dos extintores de categorias variadas pelos de Classe ABC. “Essa adequação é muito importante, facilita o treinamento”, diz, lembrando que no momento de um sinistro, é comum que as pessoas se esqueçam do tipo de extintor mais apropriado para combater o foco de incêndio. Sobre a mangueira, também de difícil manuseio, ele sugere sua troca por mangotinhos, ou que pelo menos as construtoras sejam obrigadas a instalarem esses equipamentos nas cozinhas, lugar de maior ocorrência de incêndios nos apartamentos.

Já nas Brigadas, Carlos Cotta defende que a legislação estabeleça a necessidade de treinamentos mensais, em rodízios de grupos de moradores. “A Brigada não pode ficar somente na dependência do poder de convencimento do síndico”, justifica. E que esses encontros incluam simulações e exercícios práticos, “porque somente diante do fogo e da fumaça o condômino saberá qual a sua real capacidade de combate”. “Isso é que dá consciência e confiança”, reforça.

Simulação é fundamental ainda para verificar o comportamento das pessoas nas rotas de fuga, destaca Carlos Cotta. “É preciso fazer, pelo menos uma vez por ano, o treinamento de abandono”, situação que possibilita ao condomínio identificar e resolver suas dificuldades concretas, como evacuar cadeirantes e pessoas que vivem imobilizadas nas unidades.

Outro item importante é definir um ponto de encontro dos condôminos ao final da rota de fuga, facilitando o trabalho de localização das pessoas pelos bombeiros, finaliza o engenheiro.

NOS CONDOMÍNIOS, A LUTA PELA ADESÃO

No começo do mês de março, logo após o Carnaval, a síndica Rosana Moraes deu início à promoção de palestras sobre prevenção e combate ao fogo, “a primeira de uma série que pretendo fazer ao longo do ano dos assuntos relativos ao condomínio”. O tema do primeiro encontro foi Brigada de Incêndio e manuseio dos extintores, o que, segundo Rosana, contribuirá para que os condôminos comecem “a perceber a importância das portas corta-fogo, das escadas em caso de incêndio”, entre outros.

Síndica dos Edifícios Flávia e Fernanda, ela aposta ainda que o processo ajudará na conscientização dos moradores, “de que não podemos ter objetos de decoração (plantas, móveis em excesso) nos halls e que, em hipótese alguma, atrapalhem a rota de fuga”. Rosana Moraes diz que se surpreendeu com a presença na palestra de idosos e de moradores pouco assíduos nos eventos do condomínio, celebrando a oportunidade de “a administração interna justificar os gastos em manutenção de equipamentos de segurança”.

“Em 2012, readequamos todo o material (placas de sinalização, mangueiras, chaves e outros) de combate a incêndio e sempre mantemos o período de recarga dos equipamentos em dia”, exemplifica.

A adesão dos condôminos aos treinamentos é um dos principais obstáculos que os síndicos enfrentam para cumprir com todos os quesitos da legislação de incêndio e das normas técnicas. Nilton Savieto, síndico profissional de doze condomínios, observa que costuma fazer as convocações com antecedência – “convidamos a todos, inclusive crianças e empregadas ou diaristas que ficam a maior parte do dia sozinhas, mas a frequência ainda é pequena”. Nos edifícios comerciais, a busca pela adesão envolve um trabalho com as empresas, estimuladas a enviar “no mínimo um funcionário”. “Pelo menos no último ano tivemos uma presença maior”, informa.

Em geral, os treinamentos ocorrem a cada ano no âmbito da Brigada de Incêndio, através de empresas especializadas, que promovem demonstração e exercícios in loco do funcionamento dos equipamentos. Nilton Savieto considera importante desenvolver simulações de abandono das edificações, mas diz que a tarefa é mais desafiadora. “O problema dos testes nos prédios residenciais é que os moradores não estão durante o dia. Nos comerciais, ainda há resistências e precisamos avisar a polícia, bombeiros e, em alguns casos, a CET para evitar contratempos.”

Quanto às rotas de fuga, ele diz que os condomínios que administra recebem um trabalho de atualização constante da sinalização dos traçados de abandono da edificação, entre elas, a fotoluminescente (obrigatória).

Fonte: Direcional Condomínios

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