Sustentabilidade vale a pena

Afligidos pela seca mais rigorosa dos últimos 80 anos e às voltas – mais uma vez! – com a ameaça de um apagão elétrico, somos convidados a repensar hábitos de consumo e a concentrar esforços na luta contra o desperdício. Afinal, não existe, no mundo contemporâneo, espaço para o pensamento mágico de que “as coisas […]

Sustentabilidade vale a pena

Afligidos pela seca mais rigorosa dos últimos 80 anos e às voltas – mais uma vez! – com a ameaça de um apagão elétrico, somos convidados a repensar hábitos de consumo e a concentrar esforços na luta contra o desperdício. Afinal, não existe, no mundo contemporâneo, espaço para o pensamento mágico de que “as coisas se ajeitarão”, ou mesmo para uma fé inabalável no suprimento das nossas necessidades por meio de alguma providência divina.

Devemos usar nossa inteligência para a busca de soluções que nos permitam utilizar os recursos naturais de forma mais sensata, cumprindo a meta essencial do desenvolvimento sustentável: atender nossas necessidades presentes sem comprometer o bem-estar das gerações futuras.

Um elemento indispensável a esta equação é o uso de técnicas e materiais que se enquadrem no que se convencionou chamar de “construção sustentável”, tema do livro “Tornando nosso ambiente construído mais sustentável: Custos, Benefícios e Estratégias” (“Greening Our Built World: Costs, Benefits and Strategies”, no original), do norte-americano Greg Kats.

O autor é uma autoridade no assunto. Especializado em tecnologia de energia limpa, capital de risco e imóveis, ele foi o principal consultor no desenvolvimento do Green Communities (Comunidades Sustentáveis), padrão que rege os projetos de habitações de interesse social sustentáveis dos EUA. Seu principal mérito reside na abordagem essencialmente realista do tema. Sem demagogias ou exageros pseudoecológicos, ele mostra caminhos economicamente viáveis para uma mudança radical e positiva na nossa forma de edificar – e de utilizar as nossas edificações.

O livro mencionado acaba de ser traduzido para o Português, por uma iniciativa do Secovi-SP, o Sindicato da Habitação. A obra apresenta números que, embora levantados em cenários e realidades bem diferentes do que vivenciamos no Brasil – temos outros sistemas prediais, outros comportamentos no uso e ocupação do solo etc. –, ainda assim são reveladores.

Greg expõe a relevância do processo investigatório que identifica consumos e emissões e os relaciona a investimentos e benefícios. O conhecimento aprofundado destes indicadores e a sua medição contínua são fundamentais para a melhoria das soluções de projeto e dos métodos construtivos adotados pelo setor imobiliário brasileiro. Aliás, evidencia-se que, apesar de pesquisas anteriores apontarem que uma construção feita com estes novos parâmetros de engenharia seriam mais elevados, este aumento de custo fica em torno de apenas 2%! Trata-se de um investimento que vale a pena, pois ele traz retorno não somente no que tange aos ganhos ambientais, mas também, de forma muito pragmática, reduz custos do dia a dia (por exemplo, nas contas de água e eletricidade).

Além da importância das informações levantadas pela obra para o estabelecimento de diretrizes de projeto para as novas edificações, elas também são extremamente relevantes para o aperfeiçoamento do ambiente construído já existente, orientando o processo decisório de investimentos em reformas, por exemplo. Em palavras mais simples: mais que fazer o retrofit de um edifício, o empreendedor pode optar por uma reforma sustentável, que permita melhor penetração de luz natural, que facilite a circulação do ar, reduzindo a necessidade do uso de ar-condicionado.

Outro fator relevante abordado pelo livro é o fato de as edificações serem os componentes de um todo, formando os bairros e as cidades – que, por sua vez, devem abrigar comunidades cada vez mais sustentáveis em termos de infraestrutura de abastecimento, saneamento e transporte etc.

Em linhas gerais, a obra resulta de um trabalho de 20 meses, iniciado em 2007, envolvendo arquitetos, investidores, consultores em construção sustentável e proprietários de edifícios. Foram reunidos dados detalhados sobre 170 edifícios sustentáveis dos EUA e analisados os valores investidos, as despesas com energia e água, os benefícios à saúde, o aumento da produtividade de seus ocupantes etc. A conclusão: investir em sustentabilidade no futuro vale a pena, e quanto antes o Brasil começar a fazer isso, melhores serão os frutos que colheremos no futuro.

(*) Ciro Scopel é vice-presidente de Sustentabilidade do Secovi-SP.

Fonte: SECOVI

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